Coletivo Toneladas de Maracatu realiza 1ª formação em Maracaletramento na UENP

No dia 16 de agosto, o Coletivo Toneladas de Maracatu, também conhecido como Maracatu Pedreira, realizou a sua primeira Formação em Maracaletramento: tempo e corporalidade, no Parque Universitário da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), em Jacarezinho. A atividade contou com a parceria do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi/UENP), da Escola de Samba Greces Acadêmicos Capiau e do Maracatu Baque das Águas, dos municípios de Fartura e Piraju, São Paulo.
Cerca de 30 pessoas participaram da Formação, entre artistas, coletivos culturais da região, educadores, universitários e crianças da comunidade. O encontro teve como objetivo o fortalecimento de redes socioculturais de resistência e memória por meio do batuque, da dança e da palavra, buscando reunir diferentes gerações e movimentos em torno da cultura popular e da educação antirracista.
Conduzida pelo professor doutor Antônio Donizeti, pelo ogã José Pereira da Paz, conhecido como Mestre Capu, e por Andreisy Michelle Natel de Camargo, atriz e cantora, a programação, a fim de promover diálogos, integrou percussão, vivências e corporalidades. Para o professor Donizeti, idealizador do projeto, o encontro se consagra como “um momento de ousadia dentro da UENP, no sentido de trazer para o centro da universidade uma discussão que muitas vezes acontece de forma marginal: pensar a ancestralidade, a corporalidade e o que isso possibilita no campo da educação das relações étnico-raciais”.
O dia foi marcado por momentos de estudo e partilha de ideias, encerrando-se com um ensaio aberto de Maracatu na Praça da Ágora, ao lado do Centro de Ciências Humanas e da Educação (CCHE), da UENP, envolvendo toda a comunidade presente. “Quando a gente pensa o ensino e a aprendizagem da educação antirracista a partir do batuque do maracatu, compreende que essa experiência se apresenta como uma potência, porque reaquece a memória e dá novos significados ao tempo vivido”, destacou Donizeti.
Para Andréia Maria dos Santos, produtora cultural de Ourinhos, São Paulo, “participar do letramento em Maracatu foi uma experiência leve e profunda ao mesmo tempo. Aprendi com a escuta e com o corpo, e me senti parte de algo maior”, aponta. “Foi bonito ver a força da cultura preta sendo compartilhada de forma simples e verdadeira. Como produtora cultural, percebo ainda mais a potência do Maracatu, não é só dança ou toque, é memória viva, é preservação e resgate da cultura”.
Ao refletir sobre as potências alcançadas pelo projeto, Donizeti relembra métodos educativos baseados nos pensamentos de Paulo Freire. “De alguma forma, fomos descobrindo juntos o que é essa ideia de ler o mundo a partir da palavra e da vivência local. As próprias crianças começaram a trazer palavras nas loas [cantos], e assim fomos entendendo melhor quais palavras precisam ser ditas na leitura desse mundo de Jacarezinho”, enfatiza.
O Coletivo Toneladas de Maracatu foi criado em 2019 em Jacarezinho e, a partir de 2022, passou a promover encontros semanais com crianças e adolescentes da comunidade da Pedreira. Através da educação popular, o grupo busca desenvolver a formação de um letramento sociorracial crítico, que reflete sobre o direito à cidade e à memória através dos batuques e da percussão. Para os educadores do projeto, a Formação em Maracaletramento marcou um passo essencial na valorização e difusão do trabalho do coletivo na região, reafirmando a cultura como espaço de encontro, aprendizado e resistência.
Esta ação faz parte do projeto “Maracatu Maracá: Música no Sangue, África no Soro”, realizado com o apoio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura. Participam da iniciativa os educadores do Coletivo Toneladas de Maracatu: Ana Caroline Goulart, Antônio Donizeti Fernandes, Cleiton Ferraz Souza, Igor Caíque de Almeida Silva, Ilson de Oliveira Neto de Medeiros, Jorge Souza Fernandes, José Pereira da Paz, Laura Kloche Miter Breganholi, Liliane Milanezi Lopes, Marcelo Augusto Germano e Mariana Ponciano Ribeiro Rennó.